26.6.13

Julho Estrangeiro

Vem,
Chega na tarde que te embala, a melancolia
E a saudade, estrangeiro.
Abraça a tua casa, sente o seu cheiro imutável.
Chora com ela as noites em que não se viram,
Chora com ela os sonhos que não tiveram
Por quereres sempre o que está mais além,
Ou por quererem por ti o que esconde o Sol.
Chega sozinho, traz contigo a nostalgia,
Essa prostituta única companhia
De quem parte.

Vem,
Encontra os braços de quem nunca partiu,
Vê nos meus olhos sem cor e diluídos
A vontade de descobrir a terra e o céu.
Vê neles a inveja e o amor que te tenho
E contorna-me, com a tua mão, o peito
Rasga-o como se quisesses conhecer
Mais que a minha nua forma,
E constrói ambições e luxúrias
Sonhos dignos de quem viaja pela tua
Nua forma também.
Cessa-me as lágrimas que me dão forma à cara,
Conforta-me, por saber que sou efémera,
Mortal e finita ao tempo que não pára.
Sê a voz que me impede assim de mergulhar
Em vinho tinto, demência e doença
E leva-me a passear, pelo horizonte onde tu
Estrangeiro, te atreveste a passar.

Vem,
Não vivas a angústia de teres de voltar à viagem,
Não vivas o medo de desconheceres
Os caminhos que te são tão fáceis imaginar.
(Mais difíceis são os da minha pele
E já os tens de cór em soluções
Antes de chegares.)

Vem,
Que iremos criar-nos em sonhos antes de ires,
De estrelas que não existem, por não existirmos
Nós também.

Mas antes de ires,

Vem.

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