3.7.13

Poesia Em Prosa

Toda a casa é ar saturado da minha respiração.
Estou sentada na cadeira - se olhares pela janela parece-te demasiada a passividade com que encaro o que leio - estou a ler poesia, já agora. Sempre gostei de ler poesia. Podemos ser tudo quando a lemos. É algo desafiador, poder ser tudo e não saber o que querer ser. É perturbante sentir-me vagabunda por entre palavras - não obtenho resposta a nada - vagabunda, ao ponto de cada verso parecer um sopro sôfrego em busca de sonhos. Bastam-me as imagens inalcançáveis dos mesmos para saber como lidar com o esgotamento das ideias e consumi-las - como quem consome cigarros na esperança do tempo passar mais rápido.
Continuo imóvel na cadeira, faz parte do processo observar como tudo se recria - como eu me torno no ar que ocupa todo o espaço à minha volta por já o ter respirado, e por voltar a fazê-lo, e aos teus olhos parecer tudo um sossego inquestionável. Sou tudo menos sossego quando leio poesia. A poesia é tudo menos sossego - e se o aparenta ser, não passa disso. Se aparento quietude, é tudo menos quietude - os ossos deixam de me sustentar, as carnes remexem-se, os poros arrepiam-se.
A imobilidade é todo o confronto com a verdade que a poesia me traz - é a única forma que tenho de exteriorizar o que há de novo em mim depois de ler.

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