24.2.14

estar deitada

se me deitar no chão e me esticar toda
consigo dar a volta à terra, a contar com o mar.
pode ser que assim me canse de vez
do ítrio que me prende os pés na vertical.
pode ser que deixe de ler sonetos onde o amor é uma trincheira
e que deus ainda me dê tempo para fumar um cigarro.

são dias de mártir onde o único prazer permitido é fumar -
aos olhos de uns, olhos claros, vícios de gente imunda,
aos olhos de outros, enleve negrume de sonhos condicionados
nos olhos escuros e derrotados de quem os consome
- de quem os destrói.

não se desperdiçam cigarros a quem não sabe destruir
- não concorda? - seriam infernos espalhados,
beatas guardadas como réstias do que a memória
não nos deixa acabar.

se eu consigo dar a volta à terra, a contar com o mar
aquando morta e jazida, consigo aprazer
todos os meus pecados e ser perdoada.

limpar-me da poeira a que fiquei reduzida
e ser éter em universos em que se desconhece o chão.

quanto aos sonetos, que morram enterrados comigo.

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