18.1.14

crónicas

A minha janela dá para a janela de outros - se janelas fossem realmente barreiras não conheceria deles o que deixam que conheça. Não sei quem são. Nunca os vi sobre o parapeito a fumar, nunca os vi a espreitar o sol ou a lua ou a bocejarem sobre intempéries de noticiários do horário nobre. 
Deve ser velha, aquela que lhe falta no estendal roupas dos anos 2000, esses intemporais, os que querem ficar para sempre a renovar-se enquanto ela vai morrendo. Deve ser solteiro, aquele que pela marquise não deixa ver mais que um vulto caótico de uma vida solitária. Casados de fresco, aqueles que pela fisga da janela deixam escapar o som da satisfação a florar. Logo ao lado, aquela que filhos carrega ao colo pelas paredes ter riscadas de lápis de cera - e no entanto quem lhes pinta cenários sou eu. 
Não acredito que tendo vidas ocupadas se darão ao trabalho de por os cotovelos de fora e imaginar - não passa de um exercício à imaginação, isto de lhes adivinhar as vidas. 
Há gente para tudo. 

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