27.11.13

mar

Todos os corpos de quem conheci foram abertos.
Nos meus olhos, todo o embaraço de ser o que sou.
O mar deixou de ser mar para ser todo o sangue
existente em todos os homens,
os nossos corpos amontoam-se:
são areia, formam dunas, pó.
Não sei fazer mais nada que abrir corpos
e o que lhes resta é serem pele seca.

Se te amei, foi porque perdi a noção da distância
entre o que é a sobriedade e a loucura, o suficiente
para escrever poemas infindáveis sobre a carne.
Se te amei é porque eras real e eu só vivia em universos
paralelos ao que é ter os pés sujos em terra.
Se te amei foi porque te consegui abrir os pulsos,
ferida de tamanha grandeza, e ver-te em éter
longe de onde eu possa ser só alucinogénica.

Aqui eu sou louca, infâme, insana,
só sou real quando sonho e só sonho quando sou louca.
No mar à minha frente vejo todas as imagens do que procurei.
Se te amei, foi porque a saudade deixou que me magoasse
E se eu te disse que a saudade existe
e o que o mar a sente, é porque o amor
é a eterna procura de nós noutro alguém.

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