4.10.13

queda livre

Não se saber quando se morre
é bonito - toda a inconstância
da linha recta a que chamamos vida
ser transformada num ponto.
Querer ser-se alguém
mesmo que se seja degradante e triste,
mais vil e insalubre que todos os outros.

Eu sabia o que era ambicionar
antes de passar os dias à sombra,
na penumbra do que é a satisfação.
Sabia o que era sonhar
antes de se tornar numa vaga aprendizagem inútil,
leve abstracção do pensamento geometrizado
à conduta monótona de uma vida vã.

Caí de desgostos em espaços vazios,
sem amores, vaidades ou luxos.
Não querer sair deles é humilde.
É aceitar a queda que não vem explicada
em nenhum manual ou bíblia
que ainda estejam por fazer nascer
das nossas livres crenças e vontades inóspitas.

Espera-se por um término sem prazo
quando somos nós que lhe damos durabilidade.
Se eu quiser ser imortal pago por pensar.
Ao contrário, aprender em lutos
onde está a beleza da sinceridade
e embebedar-me todas as noites por ela
parece dar à minha queda uma forma mais concrecta.

É isto que se aceita quando se morre?
Uma forma concrecta por não sermos nada.

Sem comentários:

Enviar um comentário