11.8.13

fogueira

Os meus olhos são nuvens.
Perguntas-me porque choro
A resposta parece evidente.
Choro a inveja de não ser
Quem eu vejo querer ser.
Quero-te ser.
E tu bem sabes que te quero ser.

Todo este desejo corrói-me.
Se os meus olhos são nuvens
Por dentro tenho o Inferno todo.
Todo este vermelho é a carne
Que arde na fogueira que morre
De lento por não ter mais nada
Que a faça arder.

Estou gasta. Sozinha
Sem ter idade para isso.
Desfaço-me pelo vento em vez
De me desfazer de mim própria
Nas cinzas apagadas de quem
Eu nunca fui.

E pelo fumo esvoaçam sonhos
Esquecidos por eu me esquecer

De mim numa criança qualquer.

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