9.5.13

Gume

O corpo sua,
o pulso abre-se pelo gume de fininho - não se trata de um acto masoquista mas sim de uma exploração à existência. O nervoso por saber a verdade aumenta-me a pulsação e abre-se sobre o golpe, o rio sanguinolento. Confirmo se o que vejo prova que eu existo. Suo. Existo sim, digo-o por ter visto as carnes contaminadas pela doença, pela insânia, pelo desejo de me conhecer a fundo causado por um pequeno gume. Por um pequeno gume não. Por mim, por querer provar a minha existência a mim própria. Não aos outros porque para eles sou só matéria, mas para mim não o quero ser - falta-me ver a alma e completo-me. Quem serei eu se vir a minha alma? Se dizem que alma não se vê, se a vir, quem serei? E se não a vir? Se não a vir, posso afirmar que existo por não a ter visto, posso dizer que a tenho por não a puder agarrar ou estancar como ao sangue. Continua-me a atravessar de fininho o gume, em nada pára, sou um deserto por nada sentir e espreito outra vez o pedaço aberto para as carnes. Para além disso, nada vejo, é certo. Existo, é certo também.

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