15.4.13

Metodologia da Carnificina

Sinto na carne aquilo que sinto fora dela
Sinto o ar, o pó, a leveza dos seres
O peso que eles têm em mim
O peso que têm no Universo e fora dele
Se é que algum peso têm, se é que eu peso sequer
Se é que o éter pesa também em todos nós.

Sinto também a carne na sua mixórdia pura
(Porque até dentro do humano há carne pura).
O rio sanguinolento que corre no seu curso,
A contracção do músculo causada pela dor,
O osso que se parte, que se quebra,
A pele que se arrepia por poder sentir o ar.

E se carne tenho, a carne sinto e a carne posso criar
Infalível é o desejo da carne dar, da carne querer amar
Do remexer dos tecidos unidos pelo movimento.
Domina-me assim uma inquietação
Domina-me toda a inquietação do Universo
Se não for o éter que nos inquieta a todos nós

Se não for ele o fundamento da nossa morte,
Aquilo que nos embala depois de fecharmos os olhos,
Eterna companhia do ser humano quando se torna imortal
Quando já nem homem é, quando já nem de carne é.
Inquieta-me assim tudo o que está para além dele
Porque na carne já nada é inquietante.

Na carne é tudo ordinariamente igual,
Violência que é esperar o éter a existir-se.

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