19.4.11

Não me lembro de ter dormido

Atirei o telemóvel para cima da mesa. Mandei-me para cima da cama. O meu corpo adormeceu com o som ribombante da trovoada e o zumbido de uma melga que me azedou os ouvidos. O meu corpo adormeceu. Eu não. Eu não adormeci, o meu pensamento continuou acordado. Ouvi tudo. Nada vi. Estava envolta nas sombras que batiam na parede, feitas pelas tralhas espalhadas pelo quarto, em que batiam freixes de luz vindos da janela. O meu corpo adormecido ia-se mexendo e os meus ouvidos ouviram a conversa calorosa que ecoava pelo corredor fora até embater contra porta fechada do meu quarto. Mesmo assim, Eu ouvi. Telefonemas...
O quente da respiração fazia-se sentir na pele. Ao meu irmão nada disto perturbava. A ele, não só o corpo estava adormecido, como também o pensamento. E eu continuava em ebolição. Num reboliço. A mim, tudo me perturbava. A mim tudo fazia com que eu não permanecesse imóvel. Entretanto, também as sombras se dissolveram nas paredes e tudo ficou ainda mais escuro. As luzes lá de fora, e as luzes que vinham do corredor apagaram-se. Fechei os olhos. Nada ouvi. Nada vi.
No entanto, não me lembro de ter dormido.
9h30. Primeiro bocejar. Primeiro abrir de olhos. Primeiros sons ouvidos. O meu pensar e o meu corpo devem ter entrado em sonhos lá por duas horas... De resto, Não me lembro de ter dormido.

2 comentários:

  1. Um raio de um excelente texto. Ponto. E sim, vamos fazer o verão Jô, já.

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  2. COMO DIZ A BEA:
    B-R-U-T-A-L

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