13.6.14

soneto ao nado-morto

se eu tinha vida 
debaixo de paredes uterinas, 
porquê arrancá-las e rasgá-las 
quando aqui só sei aprender a morrer 
com o tempo a sugar-me melanina. 

se eu tinha a hipótese de nascer morta 
porquê dar vida a um nado-morto? 
só porque sei ranger dentes e dizer palavras 
só porque sei premir gatilhos e estilhaçar vidro,
não faz de mim quem eu queria ser. 

só porque sei ler um conjunto de frases
que na realidade não existem à minha volta, 

tinha de viver. se tinha de nascer tinha de viver 
e saber escrever também. 

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