3.11.13

laudatório ao sossego

nada tem a miudeza de estar em sossego.
dói-me a cabeça, estou cansada,
um pouco menos de barulho senhores vizinhos
a vossa cama ouve-se no rés-do-chão
os suspiros, os afagos, o travar dos cigarros,
a impaciência do dia-a-dia.
dói-me a cabeça, estou cansada
não tenho óleo para tantas paixões
não tenho folgo para tantos amores,
não tenho sequer roldanas que me permitam
dar a volta ao universo e continuar viva sob
o olhar julgador do sol e o pó que a lua faz.
enxaquecas, que mulheres de esquina!
estou cansada amor, dói-me a cabeça
não consigo existir mais do que ser cadáver
não consigo existir mais fora destas paredes que me acolhem.
perdoa-me por não te conseguir amar hoje
nem hoje, nem nunca, nem quando o mundo acabar
por estar sempre com receio da minha existência.
e se cometo um crime?
daqueles em que o sangue ferve nas mãos da adrenalina
e se bebe até à consciência ficar limpa por não se lembrar.
e se cometo um crime e a razão é não ter sossego,
estar algo a fazer ruído nos meus ouvidos surdos
de tanto ter para pensar?
estou tão cansada, cada vez mais cansada
e a cabeça, dói tanto, só peço por um beijo na testa
meticulosamente dado para adormecer,
um cigarro que me saiba a mil e saber como viver
sem a paz que é morrer.

Sem comentários:

Enviar um comentário