11.11.11

Boa Noite

Uma névoa de amnésia profunda consegue deixar-me cega das boas memórias que tinha de ti, que tinha de nós os três. Enquanto figura humana continuas a passear-te pela casa, ou pelo menos por aquele sítio em que eu me deveria sentir em casa. Mas enquanto figura de alguém com um sentido correcto, estás cada vez mais longe, e eu estou cada vez menos interessada em fazer-te sentir uma autoridade respeitável. Espero que leias isto que te deixo à porta do quarto, quando já tudo tiver debaixo das luzes ofuscantes da discussão acesa por um fogo que não se viu, ou que já não se lembra que existiu, ou então foi a névoa que o veio tapar. A mesma névoa que queriam que me calasse. É tudo uma névoa para mim. E eu continúo a implorar para que voltes. Não sei a quem imploro, porque num Ele grande do céu não acredito. Já tentei implorar-te para que o faças, a ti, que estás fechado numa barra de névoa orgulhosamente ferida, por ti, para que aquilo que eu agora sou contigo possa também desaparecer e assim permanecer o bom tempo a que estavamos acostumados. Ambos.

Dentro de mim vai crescendo uma chapa de metal que eu queria que parecesse translúcida. Talvez assim percebesses aquilo que eu, só vomitando para o papel, tento que chegue a ti.


Boa noite,
Joana

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