Uma névoa de amnésia
profunda consegue deixar-me cega das boas memórias que tinha de ti, que tinha
de nós os três. Enquanto figura humana continuas a passear-te pela casa, ou
pelo menos por aquele sítio em que eu me deveria sentir em casa. Mas enquanto figura
de alguém com um sentido correcto, estás cada vez mais longe, e eu estou cada
vez menos interessada em fazer-te sentir uma autoridade respeitável. Espero que
leias isto que te deixo à porta do quarto, quando já tudo tiver debaixo das
luzes ofuscantes da discussão acesa por um fogo que não se viu, ou que já não
se lembra que existiu, ou então foi a névoa que o veio tapar. A mesma névoa que
queriam que me calasse. É tudo uma névoa para mim. E eu continúo a implorar
para que voltes. Não sei a quem imploro, porque num Ele grande do céu não
acredito. Já tentei implorar-te para que o faças, a ti, que estás fechado numa
barra de névoa orgulhosamente ferida, por ti, para que aquilo que eu agora sou
contigo possa também desaparecer e assim permanecer o bom tempo a que estavamos
acostumados. Ambos.
Dentro de mim vai
crescendo uma chapa de metal que eu queria que parecesse translúcida. Talvez
assim percebesses aquilo que eu, só vomitando para o papel, tento que chegue a
ti.
Boa noite,
Joana
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